O mês de setembro é marcado por um tema muito sensível, que infelizmente cresce cada vez mais na nossa sociedade, o suicídio.
Espero que este breve texto te traga uma reflexão profunda sobre seu estado de alma, meu objetivo com ele, é trazer esclarecimento, conhecimento e afago ao sofrimento.
De forma especial, quero focar na saúde mental e fazer uma construção bem objetiva sobre o tema.
A pergunta principal que cerca este tema é, "quem somos nós?", ao longo destes anos de estudo e de clínica, pude compreender que uma das formas de explicar o adoecimento mental é compreender quem somos, entendi que todos somos uma construção, ainda que pensar dessa forma possa doloroso para algumas pessoas, o fato é que essa é uma das possibilidades de enxergarmos a nós mesmos.
Nossa história começa muito antes do nascimento, todo bebê entra em uma história que já existia antes mesmo dele e consigo traz uma série de expectativas, conflitos, diferenças, amor e desamor.
O bebê humano é o único animal que nasce totalmente despreparado, é um ser que essencialmente precisa de cuidados, sem estes cuidados o bebê não á capaz de sobreviver, essa sensação a qual chamamos de estado de desamparo, é experienciada por todos os bebês, alguns em maior grau.
Esse registro permeia nossa existência e a medida que o bebê recebe cuidados ele se fortalece. Para que fique mais fácil a compreensão, imagine que o bebê é um ser com margens pouco definidas, os que isto quer dizer? Isto quer dizer que o ambiente externo pode desequilibra-lo com muita facilidade, afinal tudo é novo, os sons, os cheiros, vozes, barulhos e por isso o papel dos cuidadores é tão essencial, pois esse cuidado faz com que o bebê se torne, a medida que cresce, alguém mais forte, onde essas margens vão se tornando bem definidas. Portanto, podemos considerar que os cuidados direcionados a nós na primeira infância, também nos ensinam como devemos nos cuidar.
Talvez por circunstâncias difíceis, tais como falta de recursos, crise de relacionamento, ausências, ou pais que não tinham uma estrutura psíquica saudável, possam ter interferido de forma decisiva na capacidade da criança desenvolver uma estrutura emocional saudável.
Estes cenários também podem passar para a criança a mensagem de que ela é um peso e mais uma responsabilidade para a família e por isso, muitas vezes, infelizmente, ouvimos histórias de pessoas que eram consideradas maravilhosas tirarem a própria vida. Aquele bebê não obteve do ambiente os recursos necessários para desenvolver uma boa estrutura emocional, consequentemente não é capaz de perceber esses recursos em outros ambientes que vivenciará ao longo de sua existência, como por exemplo, na escola, nos relacionamentos afetivos e no trabalho, pois projetamos as experiências primárias nas experiências futuras.
Outro extremo que podemos levar em consideração, mas parte de um princípio totalmente contrário, é de pais de privaram os filhos de qualquer frustração, isto quer dizer que a criança não tem estrutura emocional para lidar com limites, frustrações ou perdas, qualquer desejo da criança era atendido, por isso vemos jovens com uma inteligência absurda, incapazes de lidar com o fim de um relacionamento na adolescência, trago esse ponto como um tema sensível que precisa de atenção, afinal um jovem de 13 anos é capaz de invadir os computadores da NASA, mas não é capaz de lidar com uma frustração tão comum nessa idade, que é o fim de uma relação.
Algumas crianças aprenderam com a falta e sentem que são um peso para o mundo, como se estivessem em divída, outras aprenderam que o mundo deve servi-lás...
Percebemos um desequilíbrio em ambas as situações, o que ela pode acarretar? Uma dificuldade em lidar com as emoções, sensações e sentimentos, demonstrando a dificuldade de ter inteligência emocional, mas afinal, o que é inteligência emocional?
A inteligência emocional pode ser definida como a capacidade emocional de reagir de forma adequada ás situações. Portanto é uma habilidade emocional que parte de dois recursos essenciais, cuidado e frustração, ambos tem papel fundamental na construção do psiquismo saudável.
Outro fator que pode afetar de forma relevante e negativa é o desejo de agradar e ser aprovado pelos pais, essa construção pode partir do desejo de aprovação da criança ou do desejo que vem dos pais, de ter um filho perfeito.
Por conta destes fatores a criança pode desenvolver o que Winnicott chamou de falso self, que seria uma falsa identidade de si mesmo, dessa forma a pessoa se constrói frente ao espelho de desejos e expectativas alheias o que traz uma enorme angústia, de tal modo que a própria pessoa não percebe que está vivendo o falso self. Winnicott acrescenta que a tentativa de suicídio é um pedido de socorro para que a pessoa possa ser ela mesma.
Não é comum a noticia de pessoas que se suicidaram após o fim de um relacionamento, dependência emocional afetiva, ou após perder um emprego identificação com o valor ou importância que este trabalho trazia para a pessoa, ou após perder um ente querido, que é a simbiose, identificação maciça com o pessoa.
Por esses motivos o número de casos de depressão vêm aumentando. A depressão é um estado psíquico de adoecimento caracterizado tanto por sintomas emocionais como tristeza, angustia, falta de desejo de viver, como por sintomas físicos, insônia, perda ou aumento do apetite, cansaço, desanimo e outros.
Eu digo que duas pessoas podem olhar para uma mesma imagem e ver os mesmos elementos mas a forma que uma pessoa com depressão vê esses elementos, é permeado por uma névoa que distorce negativa e sutilmente as formas.
Outro ponto importante é pensar no que dizer para alguém que está com depressão, um dos discursos mais comuns é "olha só, você tem tudo, tem trabalho, família, amigos...", esse discurso é sensível e pode trazer para a pessoa a sensação de que ela está sendo ingrata com a vida e em casos mais graves acentuar seu desejo de morrer, por sentir que não merece essas coisas boas.
Por fim, acredito que o mais importante é ouvir a pessoa, de forma sincera, sem julgamentos, até que ela possa se esvaziar dessa sensação e elaborar suas causas de forma profunda, esse trabalho pode ser lento, mas é essencial, a medida que o processo avança a energia que ela utilizava (de forma inconsciente) para se prejudicar ou se punir, fica livre e pode ser direcionada a outras atividades, de forma que a pessoa volte a amar, ou aprenda a amar o que lhe faz bem.
Vale lembrar que essas considerações não se aplicam a todos os casos, mas se aplica a uma grande maioria.
E lembre-se, nunca é egoísmo cuidar de si, como dizia Freud "olhe para dentro para as suas profundezas e aprenda primeiro a se conhecer".